domingo, 8 de julho de 2012

Um milagre, um recorde, um estádio que não cai: o Fla-Flu de 1963


Registro oficial é de quase 200 mil pessoas, incluindo Zico e Junior. Marcial dá título ao Fla, e torcedores voltam ao Maracanã para resgatar a história. Diziam os otimistas que o Titanic jamais afundaria. E afundou. Temiam os pessimistas que o Maracanã um dia desabasse. E se ele não desabou em 15 de dezembro de 1963, não desaba mais. Faz quase 50 anos que o estádio recebeu aquele que é considerado o maior público de um jogo entre clubes na história do futebol. Na prática, sabe-se lá quantas pessoas criaram um bloco humano para ver Marcial parar Escurinho, para ver o 0 a 0, para ver o Flamengo campeão sobre o Fluminense. Na semana em que se completa um século do Fla-Flu, lembrar daquele jogo é lembrar da grandeza do clássico. O público pagante naquela decisão de Estadual foi de 177.020 pessoas. Oficialmente, o total de torcedores chegou a 194.603. Mas não são números realistas. Multidões de rubro-negros e tricolores, naquele empurra-empurra tradicional dos estádios (especialmente no passado), entraram sem ingresso. Duas pessoas ocupavam o mesmo assento. Milhares viram o jogo de pé. Não cabia mais um mosquito sequer ali. Se chovesse, os pingos correriam o risco de não molhar as arquibancadas - parariam nas pessoas, grudadas umas às outras. Os relatos de quem viveu aquele dia, dentro e fora de campo, indicam uma partida histórica. Dois deles, um torcedor de cada clube, voltaram ao Maracanã em 2012, com o estádio em obras, para contar ao GLOBOESPORTE. COM como foi aquele domingo. As lembranças deles são complementadas pelas recordações de duas personagens daquela tarde: o goleiro Marcial, herói do título rubro-negro, e Carlos Alberto Torres, na época um menino, sete anos antes de capitanear o tricampeonato mundial da seleção brasileira. E de dois anônimos, ainda crianças, esmagados no meio da multidão: Zico e Junior. Marcial, o herói: 'Você se sentia abafado. Era muita gente'. Escreveu Nelson Rodrigues sobre aquele jogo: "Amigos, ao terminar o grande Fla-Flu, o profeta tratou de catar os trapos e saiu do Maracanã, mas de cabeça erguida. Era um vencido? Jamais. Vencido como, se temos de admitir esta verdade límpida e total: o Fluminense jogou mais!" O Fluminense de Nelson Rodrigues jogou mais, mas não foi campeão. Marcial, o goleiro do Flamengo, impediu a alegria do cronista. Garantiu o 0 a 0. Fez o Rubro-Negro campeão.
O Flamengo foi a campo com fome. O time de Nelsinho, Carlinhos, Espanhol e Oswaldo 'Ponte Aérea' tinha a responsabilidade de encerrar uma seca de sete anos sem títulos estaduais. O empate bastava. Está aí parte da explicação para o público absurdo naquele jogo. A Nação clamava pela taça. Mas o adversário era forte. O Fluminense tinha Castilho no gol, tinha Altair, tinha Escurinho. E se tinha Escurinho, tinha esperança de gol. Era o atacante ou nada. Era o atacante ou Marcial. Foi Marcial. Em um jogo tenso, disputado, mas com supremacia tricolor, o goleiro foi decisivo. Um lance, descrito de maneiras diversas por diferentes personagens, ficou na memória de quem esteve lá. Escurinho teve a chance de dar o título ao Fluminense, mas parou em Marcial. Fiquemos com a lembrança do próprio goleiro. - Houve um lance decisivo com o Escurinho. Ele tentou me encobrir, mas abortei a saída. Eu fui e voltei. Seria gol. Lembro de ver a torcida do Fluminense, lá do outro lado, já pulando para comemorar. Mas usei a inteligência. Percebi que ele ia jogar por cima, e aí voltei. A bola era marrom. Não dava para ver com tanta nitidez. Quando ela subiu, a torcida do Fluminense gritou. Mas eu agarrei. Daí peguei a bola e mostrei para a torcida do Flamengo. Foi o lance do título. Cerca de 200 mil pessoas, certamente mais do que isso, soltaram um grito - ou de euforia, ou de decepção. O Maracanã, em êxtase, não desabou. Mas impressionou Marcial. - Aquilo era brincadeira. Você se sentia abafado. Era muita gente. Era gente se jogando uma por cima da outra - recorda.(globoesporte.com)

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